Deputado apela ao mecenato para salvar Mosteiro de Seiça
O deputado figueirense Miguel Almeida (PSD) continua à espera de uma resposta do Ministério da Cultura (MC) ao requerimento aí fez chegar, questionando a entidade sobre a existência, ou não, de um projecto de recuperação para o Mosteiro de Seiça. Mas, enquanto aguarda, Miguel Almeida equaciona outras hipóteses para salvar um património que classifica de “único” e sobre o qual não tem dúvidas: “Se estivesse em Lisboa há muito que estava recuperado”.
À espera do projecto
As informações de que o deputado à Assembleia da República (AR) dispõe levam-no a crer que o MC “ainda não tem a obra de recuperação do Mosteiro de Seiça prevista e, o que é mais grave, não existe sequer o projecto”. Há cerca de dois anos, responsáveis do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e do MC visitaram o mosteiro, e aprovaram a elaboração de um estudo técnico conducente à colocação de uma cobertura que evitasse a contínua degradação do monumento, até as obras de recuperação serem possíveis. O estudo foi feito, mas a cobertura nunca apareceu. “Agora não é disso que se trata”, sublinhou Miguel Almeida, lembrando que o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) “já foi apresentado, e é necessário afectar verbas a projectos que tenham prioridade”, o que, defende, deve contemplar o Mosteiro de Seiça. “O MC e a Câmara Municipal da Figueira da Foz têm a obrigação de, em conjunto, fazerem a recuperação deste património”, reforçou, recordando que houve tentativas, “no passado, com a Enatur (Pousadas de Portugal), e outras, mas nenhuma teve seguimento”.
Reconhecendo que as obras de recuperação possam ser “caras”, o deputado lembra, porém, que “por um lado, o valor patrimonial e histórico deste monumento, que data da fundação da nossa nacionalidade, não tem preço”, e, por outro, “ninguém sabe ao certo quanto é que custa esta recuperação”, acusando mesmo alguns números lançados de serem “para tentar assustar”. Miguel Almeida evoca o exemplo do Paço de Tavarede, “também se dizia que seria muito caro recuperá-lo, e afinal chamou-se um arquitecto especialista, recuperou-se o que era recuperável, e com pouco mais de um milhão de euros devolveu-se aos tavaredenses um espaço que lhes era querido, e à Figueira e ao país um património importante”. O deputado entende, portanto, que “é urgente fazer o projecto de recuperação”.
Ao abrigo da Lei do Mecenato
Miguel Almeida admite que a autarquia não tenha disponibilidade financeira para custear o projecto, pelo que tomou em mãos a missão de seduzir as administrações das “empresas mais fortes em ter-mos de capital no concelho: a Soporcel e a Celbi” para, ao abrigo da Lei do Mecenato, assumirem os custos da elaboração do projecto de recuperação do Mosteiro de Seiça, lembrando ainda que as duas empresas laboram na margem Sul do concelho, onde o monumento se encontra, pelo que este se pode considerar abrangido pela “responsabilidade social” das duas fábricas.
Lamentando “que a Câmara não tenha já feito o projecto”, e lembrando que foi no mandato de Santana Lopes (1999) que o Mosteiro de Seiça foi adquirido pela autarquia “por um valor simbólico”, o deputado considera que “o Estado tem obrigação de recuperar este património tão importante para o país”.
Miguel Almeida adiantou ainda que vai “tentar sensibilizar” Henrique Fernandes, governador civil de Coimbra, para esta questão, e que espera do seu colega deputado, também figueirense, João Portugal (PS) que, “tal como todos os que foram eleitos por Coimbra, me acompanhe neste assunto”.
Sociedade civil “extraordinariamente passiva”
Os presidentes das juntas de freguesia do Paião e do Alqueidão, António França e Maria Caeiro, e o pároco do Paião, Manuel Silva, bem como José Canas, antigo autarca do Paião, acompanharam Miguel Almeida nesta conferência de imprensa destinada “a não deixar esquecer a questão do Mosteiro de Seiça”, em que, critica, “a própria sociedade civil tem sido extraordinariamente passiva”, não se mobilizando através de “clubes de serviços e outros organismos”, para a recuperação de um património de “valor incalculável” que, sublinha, “importa em primeiro lugar recuperar”. Quanto à finalidade a dar ao monumento, o deputado considera que tantos fins turísticos como serviços públicos são viáveis, dependendo da natureza do investimento ser privada, público-privada ou pública.
Moinho das 12 pedras ao sabor das marés
O Moinho das Marés de Doze Pedras, situado na Quinta do Canal, freguesia do Alqueidão, é exemplar único na Península Ibérica. Construído entre os séculos XVIII e XX, o moinho original possuía 12 mós, ou pedras, das quais apenas três foram encontradas. Classificado como imóvel de interesse público em 1990, “está em completo estado de abandono”, denunciou Miguel Almeida. “Há anos atrás houve uma tentativa de recuperação por parte da Câmara Municipal, entre outras que também não deram em nada”. Salientando que “estamos a falar agora de um investimento muito diferente do que o necessário para o Mosteiro de Seiça, muito inferior”, o deputado considerou que “o concelho não pode dar-se ao luxo de não recuperar este património”. Miguel Almeida lembrou que a presidente de junta do Alqueidão, Maria Caeiro, “já fez diversas diligências” nesse sentido, e comprometeu-se ele próprio a “fazer um requerimento ao Ministério do Ambiente, para tentar perceber o que está previsto” a nível de obras de recuperação. José Canas lembrou que o moinho das marés está incluído no projecto original de ordenamento e aproveitamento turístico da Ilha da Murraceira elaborado pela Universidade de Coimbra, cuja execução ronda os oito milhões de euros, dos quais “seis milhões já inscritos no QREN”, e outros dois destinando-se à criação de diversas infra-estruturas pela autarquia, num investimento que Bruxelas financiará “com 75 por cento a fundo perdido”. Mas o moinho das marés, lamenta Maria Caeiro, “não está contemplado pelas verbas inscritas”.
A.G.
Reportagem do jornal: “O Figueirense” de 16-02-2007
http://www.ofigueirense.com/16fevereiro2007/reportagem/default.htm
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