Capela de Nossa Senhora de Seiça.
Coordenadas GPS: N 40º 2.685′ W 8º 47.118′
Monumento classificado com categoria de Protecção IIP (Imóvel de Interesse Público), Dec. n.º 251/70, DG 129 de 03-06-1970.
“A fundação da capela de Nossa Senhora de Ceiça, situada em frente do mosteiro cisterciense com o mesmo nome, encontra-se ligada à lenda do abade João, do Mosteiro do Lorvão que, de acordo com a tradição (só conservada em prosa castelhana – CORREIA, GONÇALVES, 1947) e o conjunto de pinturas exposto no interior da capela, defendeu bravamente a povoação de Montemor-o-Velho contra o ataque de um exército mouro. Apoiado apenas por um número reduzido de cristãos, o abade João perseguiu os mouros até Ceiça, onde os derrotou, fundando uma capela dedicada a Nossa Senhora, em acção de graças pela vitória alcançada (COELHO, 1935, p. 332).
Contudo, nada resta da primitiva ermida, que ruiu em 1590. No seu lugar foi erguida, em 1602, e por iniciativa de Frei Manuel das Chagas, a capela que hoje conhecemos, cuja memória subsiste no lintel da porta (CORREIA, GONÇALVES, 1947).
De planta centralizada, à semelhança de muitas outras construídas na região de Aveiro e Coimbra na segunda metade do século XVII (SERRÃO, 2003, p. 133), a capela de Nossa Senhora de Seiça exibe um traçado octogonal, repetido no alpendre, mais baixo, que percorre todo o perímetro da ermida. Este, sustentado por colunas dóricas apoiadas no muro, divide o alçado em dois registos – no primeiro, rasga-se a porta de entrada e algumas janelas de secção rectangular; no segundo, abrem-se janelas, em cada um dos lados do polígono, unidas por uma cimalha. Esta última intervenção insere-se nas obras de remodelação do século XVIII, que dotaram a capela do altar-mor dos azulejos e pinturas que hoje observamos (CORREIA, GONÇALVES, 1947).
No interior, encontra-se uma lápide comemorativa da história do Abade João, bem como uma série de pinturas, com legendas, ilustrativas dos mesmos episódios – “Montemor cercada, pelos mouros; degolação de mulheres e crianças pelo abade João e companheiros; combate com os mouros; notícia da ressurreição dos degolados; criado de D. Afonso Henriques caindo do cavalo; cura miraculosa do mesmo criado, erimitão e o rei que lhe promete fundar o mosteiro” (CORREIA, GONÇALVES, 1947). No retábulo, destaca-se a imagem de Nossa Senhora com o Menino, escultura do século XIV. Por sua vez, o silhar de azulejo prolonga a iconografia mariana, ao representar emblemas da Virgem, tendo sido executado em Coimbra. Igreja de peregrinação, de gosto barroco, este pequeno templo dedicado a Nossa Senhora de Seiça, constituiria um volume bastante elevado, caso não fosse interrompido pelo alpendre. Este, deveria albergar bastantes fiéis, dado que as portas e as janelas térreas foram desenhadas de modo a tornar visível o altar, funcionando como uma espécie de prolongamento do espaço interno”. Rosário Carvalho, IPPAR.
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Planta e cúpula octogonal, com portas laterais, lançadas de modo a permitirem a visão do exterior para o altar.
A capela é envolvida por uma colunata de colunas dóricas que suportam o entablamento.
No lintel da porta pode-se ler “Era de 1602″, data da construção desta capela, foi mandada construir por Frei Manuel das Chagas, no mesmo local da anterior ermida.
Janelas de molduras recortadas na parede da cúpula
Lendas relacionados com Seiça:
A lenda dos Degolados de Montemor-o-Velho
“Na era de 848, Montemor-o-Velho foi reconquistada aos Mouros pelo rei Ramiro de Leão. Depois da batalha, o monarca de Leão resolveu visitar um seu parente, o abade D. João, que vivia no Mosteiro de Lorvão. Quando lá chegou verificou que o Mosteiro estava em ruínas e que os frades viviam na mais completa miséria, cheios de fome e de frio, devido às guerras constantes que devastavam a região. Querendo beneficiar os religiosos, doou-lhes as rendas de Montemor e alguns campos em redor da vila, com a condição de ali ficarem alguns monges-guerreiros para defesa da vila. Passado algum tempo, os mouros voltaram a atacar e cercaram Montemor durante muito tempo.
Quadros datados da segunda metade do séc. XVIII, que relatam as lendas e historias desta região.
Quadro 1 “Montemor cercado, pelos mouros”
Começando os bens a escassear. Com a ameaça de uma rendição forçada e temendo os ultrajes que seriam feitos aos velhos, às mulheres e às crianças, cada homem reuniu a família e, encomendando as suas almas a Deus, degolou todos os seus membros, um a um.
Quadro 2 “Degolação de mulheres e crianças pelo abade João e companheiros”
De coração dilacerado com este acto sangrento prepararam-se para a derradeira batalha, no exterior da fortaleza, na qual tinham a certeza de morrer.
Mas, para grande surpresa de todos e talvez porque extinta a família já não tinham nada a perder, os cristãos lutaram sem medo e venceram esta batalha.
Quadro 3 “Combate com os mouros”
Desolados, os homens choraram a vitória pelo sacrifício inútil das suas famílias mas, quando se aproximavam das portas da fortaleza gritos de alegria ecoaram no ar.
Quadro 4 “Notícia da ressurreição dos degolados”
Aguardavam-nos vivos os parentes que antes tinham sido degolados e este grande milagre ficou para sempre na memória do povo português através da lenda dos Degolados de Montemor-o-Velho.”
Lenda da cura miraculosa do criado de D. Afonso Henriques
“Diz a lenda que certo dia D. Afonso Henriques andava à caça nas matas de Seiça quando um seu criado caiu do cavalo e Caiu desfalecido.
Quadro 5 “Criado de D. Afonso Henriques caindo do cavalo”
Existindo ali perto uma ermida levaram para lá o corpo do jovem cavaleiro.
Quadro 6 “Cura miraculosa do mesmo criado”
Mas quando já preparavam o seu enterro, eis que o nobre rapaz abre os olhos e revive.
Tal milagre foi logo atribuído a Nossa Senhora de Seiça e o rei terá então mandado construir ali perto um Mosteiro em honra a Santa Maria de Seiça”.
Quadro 7 “Erimitão e o rei Dom Afonso Henriques que lhe promete fundar o Mosteiro de Santa Maria de Seiça” Neste quadro podemos ver a capela primitiva do séc. IX, que teria sido elevada por ocasião por ocasião da conquista de Montemor-o-Velho, vindo a ruir em 1590.
Lenda da imagem de Nossa Senhora de Seiça no séc. XII
“Diz a lenda que, após ter terminado a construção do novo Mosteiro de Seiça, o abade Manuel das Chagas ordenou que mudassem a imagem de Nossa Senhora que estava na ermida ali perto para a nova Igreja do mosteiro.
Imagem de Nossa Senhora de Seiça, escultura do século XIV.
Mas a imagem misteriosamente desaparecia da igreja e retornava à ermida, tantas vezes quantas a mudavam, então ele mandou proceder á demolição da ermida, para assim contrariar tanta insistência.
Mas desta vez a imagem desapareceu da igreja e foi aparecer “na loca de um carrasqueiro que existia próximo da ermida demolida,” então nesse sitio foi reconstruída a nova capela que hoje temos, e o abade que já algum tempo estava com febres, ficou curado mal a imagem lá foi recolocada”.
Altar de Nossa Senhora de Seiça.
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Azulejos historiados com emblemas marianos, tendo sido executados em Coimbra.
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Tradução da lápide comemorativa da história do Abade João:
Lápide comemorativa da história do Abade João existente no interior da capela de nossa Senhora de Seiça.
“Quer como soldado, quer como abade lorvanense, João, que se portou com valentia no castelo de Montemor, degolou os que não podiam combater, a-fim-de que não fossem presa de mouros, que prodigiosamente derrotou, pondo-os em fuga com a espada. Este ficou vencedor; e os mortos, tornados à vida, festejam a vitória, enquanto que ele rende graças a Deus e a Maria. Tendo edificado esta capela e aqui morrendo, goza agora a bem-aventurança eterna”.
Em tempos ouve outra inscrição latina que estava sobre a sepultura do Abade João:
“João, outrora abade do Mosteiro de Lorvão, tio paterno do rei Ramiro I, que, na era do senhor, 850, para defesa do corpo de tropas de Montemor levara de vencida Abderramen II, rei de Córdova (sendo mortos 70.000 Sarracenos) com uma pequena força de cristãos, e veria ressuscitados por intervenção desta SS. Virgem as mulheres e crianças mortas por seu conselho, jaz aqui sepultado”.
Traduzidos pelo prof. A.Vitor Guerra (Album Fig. 1935, pag. 332).
Cobertura em cúpula octogonal com arcos em pedra preenchidos com tijolo maciço.
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muito bonito obrigado Anibal Ferreira Casenho
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