Um passeio de moto de Rui Ribeiro – 30-01-2010
Hoje, o passeio foi mais curto.
Aqui, muito perto de casa – cerca de 22 Km – existe um Mosteiro, votado ao abandono, mas que, pela atmosfera que se vive ao seu redor, pela ausência de ruído, pela ausência de “civilização”, nos transporta para uma “era diferente”.
O Mosteiro de Santa Maria de Seiça (também conhecido por Convento de Seiça) fica na localidade de Seiça, lugar pertencente à Freguesia de Paião (Figueira da Foz).
Quando chegamos a Seiça, encontramos um lugar mágico, onde a imponência do Mosteiro, em ruínas, se mistura com um ecossistema bastante rico, com os campos de arroz, uma ribeira e os seus canais, sapais e algumas zonas pantanosas.
Para além do Mosteiro e da Capela, existem três ou quatro casas que (aparentemente) se encontram desabitadas.
Quando os nossos olham “batem” no Convento, deparamo-nos com uma imagem desoladora.
Vidros e janelas partidos, portas arrombadas e a cobertura destelhada.
Enfim, completamente abandonado.
É rica a história do Mosteiro, cujas origens datam do início do século XII, mas os primeiros relatos surgem da altura da formação de Portugal, ainda antes do seu reconhecimento enquanto nação, quando D. Afonso Henriques combatia os Mouros nas redondezas.
Gosto de ficar por ali, a olhar para o interior do pouco que resta deste Mosteiro, e tentar imaginar as histórias que se viveram lá dentro, as alegrias e as tristezas, os nascimentos e as mortes, a pobreza e a riqueza … enfim, tentar adivinhar os segredos que aquelas paredes encerram.
O único tecto (ainda inteiro) que vi, foi este
Ainda há quem viva no Convento, ou nas suas imediações, mas parecem não se importar com o estado a que este chegou…
Deve haver muitos mais “bichos” ali por baixo, mas esses não quiseram aparecer na foto (ufffa … ainda bem … tenho pavor a bicharada rastejante)
A biografia deste espaço mistura ainda a Ordem de Cister e o Arroz.
Este Mosteiro foi edificado por Monges da Ordem de Cister no Sec. XII e aqui estiveram, durante o reinado de D. Sancho I, os frades Beneditinos de Alcobaça.
O imóvel foi reedificado no século XVII, caíndo em ruínas após a extinção das Ordens Religiosas masculinas e nacionalização dos seus bens (1834).
Anos mais tarde, apóster sido adquirido por “privados”, foi transformado numa fábrica de descasque de arroz … na minha ultima visita, há cerca de dois anos, ainda por lá estavam restos dos arquivos (pilhas de papeis e outros documentos) da altura em que a Fábrica era produtiva.
Posteriormente foi transformado em vacaria e desde a década de 80 (?) que está ao abandono.
À boa maneira Portuguesa, na altura da construção da linha de comboio do Oeste, uma parte do convento foi demolida para que a linha passasse por cima do convento (!)…
Hoje, este Mosteiro é propriedade da Câmara Municipal da Figueira da Foz que o adquiriu por cerca de € 225.000,00 à Família que estava na posse deste desde 1895.
O objectivo era a sua recuperação e transformação num Hotel de Charme, mas … cerca de 13 anos depois deste negócio, o Mosteiro continua à mercê do vandalismo e da degradação.
Tivesse eu vários milhões de €uros, que a recuperação estava garantida…
Cerca de 200 metros à frente está implantada a Capela de Nossa Senhora de Seiça.
A Capela de Seiça foi construída em 850 pelo Abade João, e viria a ser reconstruída no reinado de D. Afonso Henriques ou de D. Sancho I, e mais tarde, no ano de 1602 (durante a governação Castelhana), pelos religiosos do Mosteiro.
É uma capela invulgar devido à planta octogonal cercada por colunas dóricas de pedra.
Na porta principal está inscrita a data de reconstrução (1602) e no seu interior encontramos, uma lápide que regista os passos do célebre abade, contra os mouros.
Esta está em bom estado de conservação (pelo menos no exterior) pois foi recuperada recentemente pela C. M. Fig. Foz.
Curiosamente, só essa Capela (a única octogonal na Península Ibérica) tem a classificação de Imóvel de Interesse Público (o Mosteiro não mereceu essa “distinção).
Esta Capela só abre em dias de devoção específicos, podendo também ser utilizada para algumas cerimónias privadas, tais como casamentos.
E foi esta a minha “volta do Sábado à tarde”.
Quando regressava a casa, dei comigo a pensar que só fui dar este passeio, porque foi de moto … se fosse de “enlatado” não tinha saído de casa :motociclista:.
Um passeio de moto de Rui Ribeiro – 30-01-2010
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